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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Flamengo x Grêmio: para o time levantar do divã

Se o placar não foi dos mais animadores, a disposição agradou. E ao cantar o hino do clube no estádio ao fim do jogo e repeti-lo na saída, a torcida provou não apenas estar fechada com o time mas deu uma prova de alguma satisfação com o que viu no duelo contra o Grêmio. Bem, pelo menos com o que aconteceu na segunda etapa da partida, pois, na noite deste domingo no Engenhão, houve dois Flamengos - um para cada tempo. Times que, se não 100% distintos, diferiram por dois fatores marcantes: Adryan e confiança.

O técnico do adversário um dia conseguiu dizer uma frase bastante feliz: "O medo de perder tira a vontade de ganhar". E o primeiro tempo deixou clara uma característica deste Flamengo ameaçado, fragilizado, inconsistente: a insegurança. É um time cheio de neuras, esparramado no divã. De tão exposto, sensível, enfraquecido por tantas porradas - da sorte, da bola, da política, dos fatores externos, do torcedor com cara de bunda nas segundas e quintas -, seus jogadores não conseguem esconder um terrível cagaço de ousar. Privam-se de algo mais atrevido para não se arriscarem à chance de se tornar um neo-Welinton ou o Negueba da vez, protagonizando uma possível cagada que dê origem a uma nova derrota.

Esse medo se viu ainda mais claramente nas laterais. Só isso explica a postura de Wellington Silva e Ramon que, ao receberem boas bolas, paravam estupidamente em vez de avançarem até a linha de fundo com a fome devida. Com um meio-campo limitado em recursos de armação, o jogo ia para eles, que brecavam sistematicamente o progresso das jogadas. Aí fica muito difícil. Complica mais ainda quando voltamos a repetir velhos erros, como comprova a desarticulação do meio defensivo, que deixou González tomar a bola nas costas que chegou a Marcelo Moreno, que ganhou na corrida e abriu o placar pros gaúchos.

(Parênteses necessários para dizer: não é possível que nenhum técnico não tenha a medíocre ideia de pegar o VT do jogo e passar pros seus comandados no dia seguinte da partida, para todos verem o que acertaram e o que não podem mais repetir de jeito maneira. Se o Flamengo fizesse isso, provavelmente não teria levado o golzinho besta que tomou - um filme repetido no Brasileirão Rubro-Negro deste ano.)

Depois do 1x0, o que era medinho virou paúra extrema que, misturada às conhecidas limitações técnicas, nos manteve nessa derrota pelo placar mínimo no resto do primeiro tempo. Era preciso fazer algo - ou melhor, "o" algo, aquilo que berra aos olhos de qualquer um: a entrada de Adryan no jogo. E não se pode cravar se foi a visão do moleque retornando com o time para o segundo tempo ou a lembrança de que estava ali para carregar o Flamengo e incentivar até o fim, fato é que a torcida ganhou um novo fôlego na segunda etapa; e com ela, o time.

O Flamengo, com Adryan, é outro. Mas o Flamengo como um todo: tanto os que jogam em campo como os que jogam da arquibancada. É um jogador criativo, que não tem a necessidade de começar uma jogada parado, ou de ter que parar para iniciá-la. Recebe, parte pra frente, olha as melhores opções e tenta resolvê-las. Parece simples, mas é justamente o que a maioria dos nossos jogadores, por trauma e por incompetência técnica - que só piora quando o psicológico vai pro cacete - não conseguem. Ou, pelo menos, conseguem bem menos sem Adryan. O futebol do moleque contagia o time, que vai junto no embalo; e a torcida se anima quando a bola chega nele, pois sabe que ele irá realmente tentar algo.

Assim, comandados pelo talento do moleque, fomos bem mais time do que o Grêmio, mantendo o adversário no campo defensivo pela quase totalidade do segundo tempo. O meio-campo conseguiu converter a posse de bola em algumas jogadas efetivas - até os justamente criticados Ibson e Léo Moura renderam melhor. A subida de rendimento foi coroada com o golaço de falta de Adryan. Merecida recompensa pelo principal responsável por fazer o Flamengo esquecer de seus medos pra tentar uma sorte melhor na partida. E ela quase veio...

Por ora, ficamos no empate. Um resultado matematicamente ruim, mas que, pelas circunstâncias, do jeito que foi construído, foi um sopro de esperança em dias melhores. Mais do que isso: uma prova de que, quando o time esquece dos problemas, consegue render mais. Se este não é o Flamengo com que a torcida sonha, pelo menos melhora sensivelmente quando decide se dar alta do psicólogo para ser, simples e plenamente, o Flamengo que todos aprendemos a amar.

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Repitam comigo: Adryan não é o novo Zico. Adryan não é o novo Zico. Algo que alguns comentaristas esportivos também alertam, mas que os mancheteiros dos sites e jornais esportivos fazem questão de ignorar. O detalhe é que essa turma, geralmente, compartilha o ambiente de trabalho. Faz sentido?

Não, não faz. Pior ainda: é má fé pra vender jornal e conquistar audiência. E eu fico com o comentário do próprio autor do gol: "Depois do gol, na comemoração, só pensei em pegar a bola para tentarmos a vitória, não queria oba-oba. Um gol não muda a história de um time que está passando por um momento de dificuldade". Palavras de quem já está no caminho mas sabe que ele ainda é bem longo. Tá certíssimo.

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Sobre arbitragem, não adianta: time que quer vencer tem que pouco se lixar pros homens de amarelo. Infelizmente, ontem não conseguimos superar o péssimo trio.

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De novo: ao fim da partida, torcida cantando o hino, jogadores em campo agradecendo a força. É sempre bonito ver a festa nas vitórias, mas essa união em momentos adversos é espetacular. São momentos em que o Rubro-Negrismo se torna ainda mais espetacular. Lindo.

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