Google+ Mil Vezes Flamengo: Todos merecem ver o Flamengo - especialmente no Maracanã

terça-feira, 30 de julho de 2013

Todos merecem ver o Flamengo - especialmente no Maracanã

Para mim, o título do post é uma obviedade daquelas quase agressivas; mas para muitos Rubro-Negros, não. Por isso o post, por isso a minha insistência nessa necessidade de defender, neste pequeno espaço que me cabe, um Flamengo fiel à sua essência.

Não, não estou dizendo para deixar todos os ingressos a preço de banana; mas não é possível que uma diretoria composta por gente tão capacitada - muitos, inclusive, funcionários do (atenção para o nome) Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - não consiga implementar uma área, uma faixa do estádio, de acesso a ingressos de preços compatíveis com o bolso do povo. Não consigo aceitar isso; afinal, quem precisa de estudo ou competência para simplesmente eleger como solução para a ocupação Rubro-Negra do Maraca a oferta de ingressos mínimos a R$100?

 (Parênteses necessários: R$100 é o valor do ingresso mínimo sim, pois nem todo Rubro-Negro é estudante ou compactua com a fraude de carteirinha de meia-entrada, tampouco necessariamente sócio-torcedor. E ninguém, ninguém tem que ser sócio-torcedor à força. Nunca!)

E quem também defendeu esse mesmo pensamento por um Flamengo nada elitista e totalmente heterogêneo em credos, raças, sexos e bolsos - como manda nossa tradição e história -, reproduzo aqui o excelente texto do Ricardo González, publicado no "Entre As Canetas", seu blog na Globo.com. Concordo plenamente com a opinião do cara. Confira e reflita:

Sugestão com o Aval do Papa Francisco

Neste último sábado consegui arrumar tempo para uma singela diversão que aprecio: jantar com minha mulher na Taberna da Glória. Perto dali, reencontrei um flanelinha que trabalha no local há muitos anos, de quem me tornei amigo porque ele é eficiente no trabalho, nunca acharca ninguém, nunca me pediu um tostão – mas eu sempre lhe paguei pela “conta” que ele toma do carro, além de quase sempre levar-lhe uma quentinha -, é, flagrantemente, um sujeito honesto e do bem e gosta de futebol.

Na saída, após trocar alguns comentários, perguntei-lhe, como sempre faço:

- E aí, Fulano, vai amanhã ao Maraca? Vai matar as saudades do teu Mengão?

- Não posso, doutor. Ingresso a R$ 100 não dá. Me diga, como eu posso gastar R$ 200 pra levar o meu filho no jogo?

Aquilo está até agora me incomodando. Como a vida é irônica e, há três anos, um câncer levou meu filho – eu felizmente tenho R$ 200 -, vou esperar um novo clássico do Flamengo e dar esses R$ 200 ao meu amigo flanelinha (embora eu não seja a favor desse tipo de assistencialismo), que tem o filho saudável mas não tem tanto dinheiro. Mas a certeza de que ele e outros milhares de “flanelinhas” rubro-negros têm o direito de ver seu clube de perto me leva a convidar o presidente Eduardo Bandeira de Mello a uma reflexão. Não faço o mesmo com o Consórcio Maracanã porque me parece inútil, e como dizem muitos amigos meus, o “negócio” é dos caras, eles têm que fazer dinheiro.

Caro doutor Eduardo, o que o Flamengo tem que mais ninguém no Brasil tem? Não são títulos. Mesmo o maior deles, o Mundial Interclubes, há outros brasileiros que também o conquistaram. Não é história. Cada um tem a sua, algumas mais, outras menos ricas e glameurosas. Não é camisa. A força e o peso delas não pode ser medido, se a do Flamengo é enorme, há pelo menos outras 11 no país do mesmo tamanho. Qualquer coisa que eu lembrar aqui certamente o Flamengo terá, mas outros grandes também. O que ninguém tem igual, presidente, é uma torcida desse tamanho. Esse é, queiram muitos ou não, o maior patrimônio que o Clube de Regatas do Flamengo tem.

Hoje, com o preço dos ingressos onde está, o clube está pedindo para se igualar aos demais. Dos 40 milhões de rubro-negros no Brasil, vocês estão permitindo que, va lá, apenas metade disso vá se revezando na ida aos estádios (porque nem rico tem dinheiro para ir a todos os jogos, e não há mais Zico, hoje atura-se Paulinho e Carlos Eduardo), e reduzindo a paixão pelo clube também à metade. Ah, argumentará o senhor, mas o sócio-torcedor tem seu ingresso a R$ 50, e se for estudante ou idoso, a R$ 25. Lindo, que bom. Só que vocês propõe que a legião de rubro-negros que vivem na ponta do lápis, da Mangueira a Campo Grande, seguindo pela linha do trem ou pela Avenida Brasil (se alguém da diretoria não souber onde fica, é só procurar mapas na internet) tornem-se sócios, paguem por isso todo mês, gastem com trêm, ou ônibus, ou no estacionamento da Gávea, para ter desconto no ingresso. Posso lhes garantir que nenhum flanelinha fará isso. E, repito, todos têm direito de ver o Flamengo.

Para que não me chamem de saudosista, afirmo que o velho Maracanã já era injusto. Colocava a classe alta nos camarotes ou cadeiras superiores, a massa da classe média na arquibancada, e as classe d, de desdentados, e E, de excluídos, na geral, debaixo de chuva – de água e dos mais variados liquidos. Mas, pelo menos, era permitido a esse povo estar lá. Seus corpos todos unidos eram VISTOS, ajudavam a compor o mosaico tão lindo à esquerda das cabines de rádio. Suas vozes unidas eram OUVIDAS por Dida, Zico e Petkovic, que tantas vezes venceram carregados nas costas por esse povo. Mas de um estádio discriminatório de antes, chegamos a hoje a um estádio excludente. Talvez mais clean, mais asséptico, mais branco. Mas mais INJUSTO. Isso não condiz com a história do Flamengo.

Antes que o senhor, doutor Eduardo, ou algum de seus vices ou diretores, se pergunte: quem é esse Ricardo Gonzalez para me dizer o que tenho de fazer, eu respondo: não sou ninguém. Por isso, recorro à ajuda do Papa Francisco, esse é muito alguém. Não sou um católico tão fervoroso assim, mas vou seguir um trecho do discurso que fez a seus colegas de clero, sábado, na Catedral Metropolitana, que me ganhou definitivamente. Especialmente uma frase.

Francisco disse mais ou menos o seguinte (a frase correta está no vídeo acima): “O mundo hoje é regido por dois dogmas: eficiência e pragmatismo. Por favor, lutem contra a corrente dessa cultura.” Por que o Santo Padre diz isso? Por que eficiência e pragmatismo são bons, mas se levados às últimas consequências, são EXCLUDENTES, passam por cima do humano, viram programas de robôs. Dizer que o Flamengo tem de jogar muito em Brasília porque saiu com não sei quantos milhões no bolso é excluir a torcida do Rio, que deu ao Flamengo o tamanho que ele tem. Achar normal jogar no Maracanã com o menor ingresso a R$ 100 é trair e jogar no lixo tudo o que o clube recebeu em amor e dedicação dos torcedores menos abastados.

Não vai entrar nunca na minha cabeça, podem tentar me explicar, que o Maracanã não possa reservar um lugar, pequeno que seja, longe do campo, atrás do gols, não sei onde, que possa custar no máximo R$ 30. Se o Consórcio é insensível, por que o Flamengo não procura a prefeitura e, em vez de pegar R$ 5 milhões para colocar alguns tijolos mais rapidamente no CT, subsidia ingressos para quem não é nem da classe C? Por que não se pode atrasar em um mês a construção do CT? Por que só se pensa em dinheiro? Por que o Maracanã não escalona seus preços, com locais a R$ 30, R$ 80, R$ 120, R$ 360, R$ 1000, R$ 1milhão? Por que se prefere ganhar o mesmo cobrando mais de menos gente, do que ganhar o mesmo cobrando menos de mais gente? Por que se esquece das origens populares do Flamengo?

Caro presidente Eduardo: o senhor certamente entrará para a história como o responsável por uma mudança de rumo nas finanças do Flamengo, recolocando o clube no patamar financeiro que merece. Já deu um grande passo rumo ao resgate histórico da relação clube-torcida ao voltar ao Maracanã. Mas há mais um passo a ser dado. A hora de o Flamengo retribuir o que as massas de pobres e desvalidos já deram a essas cores é agora. Se não quiser atender ao meu modesto pedido, ouça as palavras de Francisco, reflita, e atenda ao Papa.

O flanelinha da Taberna merece.

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