Google+ Mil Vezes Flamengo: Uma fatídica e inesquecível quinta-feira e suas lições

sábado, 21 de setembro de 2013

Uma fatídica e inesquecível quinta-feira e suas lições

Tenho 37 anos. Nasci Flamengo de pai e mãe, mas de torcedor praticante, mesmo, são 30 anos vividos. Como todos os meus contemporâneos Rubro-Negros, já vi glórias - estas são maioria, felizmente - e, também, momentos estapafúrdios protagonizados pelo Mais Querido; mas nada, nada como ontem. Nada que tenha partido de uma derrota com uma virada inaceitável e culminando em algo que conseguiu, na minha avaliação, ser algo ainda mais frustrante, decepcionante, de entristecer e dar raiva. Nada.

Das mais de 24 horas transcorridas do fatídico 2-em-1 sofrido pelo Flamengo ontem até agora, falei um monte no Twitter e até em vídeo sobre o acontecimento; porém, nada como um texto corrido para ordenar melhor o pensamento. Lá vai:

Primeiramente, é levantar uma simples questão de lógica: toda, toda bomba tem um estopim. Como tudo no Flamengo é singular, a da saída do Mano parece ter dois: a imperdoável nulidade da atuação do time é o que todos sabemos; e o segundo, que ao menos para mim é inegável, embora não haja confirmação alguma, é o de que alguma coisa mais grave possa ter acontecido no vestiário após a partida. Se de fato houve, para mim foi algo que comprovou para Mano Menezes que o papel que ele pensava ocupar no Flamengo, o de comandante do time, foi severamente questionado por alguém - jogador ou diretor -, para dizer o mínimo.

Isto dito, bom que eu escreva logo isso: seja como for, a saída do Mano, da forma como se deu, foi completamente amadora, feia, covarde. Num momento delicado do time no Brasileirão e às vésperas de uma decisão na Copa do Brasil contra um arquirrival em um bom momento, o que ele fez foi uma sabotagem de dar inveja a Patrícias, Edmundos e outros vilões que sujaram nossa história. Simplesmente não há justificativa aceitável pois, se ele tiver sido 100% sincero quanto ao motivo de seu adeus, não é possível que ele tenha imaginado, antes de assumir o cargo, que o desafio não seria difícil e muito trabalhoso; e se estiver escondendo algo - como o tal "segundo estopim" por mim cogitado -, era questão de, como todo profissional experiente como ele, ter esperado o dia seguinte para os nervos voltarem ao lugar e resolvido o imbroglio junto à alta cúpula, sem alarde, para ao menos deixar o time quando tivesse cumprido o mínimo, que seria a eliminação de qualquer chance de queda para a segunda divisão.

Mas não: mais do que um atestado de incompetência, Mano Menezes premiou-se com uma medalha de safadeza da qual ele não vai se ver livre diante de gente séria. A sorte dele é que o meio futebolístico não é exatamente um universo governado pelos preceitos éticos pois, em muitas outras carreiras, ele teria assinado sua sentença nessa quinta-feira. Pois merecia.

Velhas águas passadas, vamos falar de futuro. No turbilhão de especulações, falou-se de Abel, de Andrade, de Roth... até de Joel e de Leão - bate na madeira umas 304 vezes. E enquanto muitos torcedores abraça(va)m um destes nomes como uma tábua de salvação, a direção optou, por agora, pela solução caseira de ter o interino Jaime de Almeida no comando do time. Inicialmente, eu era contra; mas agora acho que, diante das escassas, desesperadas e desesperadoras possibilidades externas, a chance é válida. Ninguém duvida de que estamos precisando, agora, de alguém que saiba o que é o Flamengo de dentro - coisa que, em sua atitude lamentável, Mano provou não saber -, e Jaime atende esse requisito. E, no fim das contas, é com ele que a gestão do clube fechou. Então, bora. Dou crédito a ele e, como qualquer outro que lá estivesse, vou torcer muito pelo sucesso dele.

Por fim, volto a falar da diretoria, e as atribuições que lhe competem. Olha, acho que já escrevi isso, mas não tenho problema em repetir: nenhum torcedor do Flamengo esperava perfeição administrativa, uma vez que, acertadamente, a própria chapa azul, ao ser eleita, disse que erros aconteceriam; porém, o que não pode rolar é a cegueira diante destas falhas e uma omissão em corrigi-las. E eles, os erros estão pulando na cara de quem quiser ver. Me ocupo em identificar os dois que julgo mais notáveis: distanciamento e permissividade.

É impressionante como os nossos comandantes se mostram confortavelmente ausentes do front. Transformam a Gávea num reino de Oz, em que, ocultos sob uma cortina de uma tranquilidade que já não se consegue disfarçar como artificial, parecem se proteger do Flamengo, da torcida, da missão que assumiram. Não veem: ficam sabendo. Pelo rádio - e isso quando não da Disney. E nos raros momentos em que, por algum alinhamento cósmico, decidem dar as caras, as declarações são superficiais, as respostas são genéricas, a postura é blasé. Parecem os fidalgos em que, com o Titanic à deriva, forçam uma indiferença para seguir tomando seu chá, ignorando perigos, projetando-se num mundo paralelo de "tudo ok", "o torcedor está certo em criticar"... e ações e presenças mais contudentes, que são boas e claramente exigidas pelo momento, nada. Nada.

Numa hora dessas em que a pane começa a se desenhar, era para o presidente Eduardo Bandeira de Melo e o vice-presidente de futebol Wallim Vasconcellos chamarem seus comandados e dividir claramente quem faz parte do problema e quem faz parte da solução, mantendo estes e mandando os primeiros para fora e para sempre. Precisamos, agora, de quem realmente está comprometido com o Flamengo e com a missão de foco máximo para tirar o time dessa situação calamitosa, em treinos, em jogos, e até nos caras e coroas. O resto é o resto, e deve ser eliminado, sem temor nem desculpa - afinal, a velha alegação de salários atrasados felizmente caiu por terra há tempos, não? Então, qual a razão em segurarmos os omissos, os dispersivos, os descompromissados? Nenhuma.

E não, não estou falando só de jogadores. Não mesmo. Pra ser ainda mais claro, é preciso entender de uma vez por todas de que lado está Paulo Pelaipe. Se quer de fato resolver, é necessário que faça muito melhor do que aparentemente vem fazendo; se é problema, que saia imediatamente, levando consigo os que não têm ideia do que é o Flamengo, sua Nação e o projeto que ela abraçou e que traduz-se na prática em adesões ao quadro social do clube, a um projeto de Sócio Torcedor questionável, vendas antecipadas de centenas de milhares de camisas, e uma paciência nunca dantes vista, assim como uma consciência das contenções de gastos. Atos que compõem um conceito que nada mais é do que a imensa vontade de fazer diferente, de colaborar na construção um Flamengo realmente novo, inspirador. O Flamengo que, como Rubro-Negros, sabemos e sentimos que merece e de fato possui um destino muito bonito a ser cumprido, que não pode mais esperar. Como diz a música daquela emissora, o futuro já começou. Por isso mesmo, há tempos o planejamento de 2014 já teve início em corações e mentes de 40 milhões de apaixonados. E não vamos abrir mão dele. Não vamos. Não vamos.

Bom. Como disse lá no começo, se antes já tinha escrito demais, mas em pílulas, agora, então... Talvez as razões pelas quais tenha produzido esses blocos imensos de textos, pensamentos, ideias sejam tão somente duas: a primeira é a de ter um pseudo, pretenso ultimato em forma de registro, na intenção vã, quase utópica, de que algum diretor do clube possa ler isso e enfim mudar o muito que deve ser mudado. Felizmente, creio em que você, torcedor como eu que está aqui, saiba plenamente o que precisamos fazer, e que certamente vamos: sermos pai, mãe e padrasto destes que hoje lá estão, e que têm uma enorme responsabilidade, assumida ou não, por parte ou pela grande maioria, de salvar o ano do Flamengo do maior dos desastres. No grito, na presença, no apoio, entrar em campo, cruzar, cabecear, não deixar os 11 esmorecerem de forma alguma. Hora de sermos Flamengo como nunca e como sempre.

E a segunda, a possibilidade de, quem sabe um dia, poder voltar a este texto, numa dessas consultas que fazemos ao passado de vez em quando, e encará-lo como um registro de um momento tenebroso que não só tenha virado notícia velha como, por competência e paixão de quem governa e de quem joga, torne-se um pesadelo impossível de ser revisitado.

Quem sabe? Hoje, infelizmente, não dá para dizer. Não dá.

Um comentário:

  1. Vc foi perfeito quando falou no mundo etico do futebol. Talvez, por confiar nele, o Mano não esperou a "noite de sono" que se preconiza.

    Quanto a postura blasé da diretoria, acho que isso mudou depois de algumas declarações infelizes do Wallim. Eles não acertam a mão, em quase nenhuma comunicação com a torcida. Essa "ausencia" se dá por isso, certeza!

    Enfim, estou com vc: torcerei pelo Jaime pq ele está lá agora. É a história do #ReageMengão.

    Bjs, querido!

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