Antes de qualquer coisa, preciso dizer: estou gostando muito do trabalho da nova diretoria do clube. Na verdade, reafirmo, pois isso já foi dito e dito novamente por mim em diversos posts por aqui e no
Twitter do Mil Vezes Flamengo. Fiz campanha para a chapa azul, faria novamente, e estou orgulhoso da retomada promovida pela gestão de um Flamengo mais ético, transparente, correto e progressista.
No entanto, há erros. Muito mais acertos, mas há erros. Isso é normal. Aliás, diversos integrantes da chapa afirmaram e reconheceram que eles aconteceriam antes mesmo de a gestão assumir o clube. E entendo que erros são oportunidades para correção de rota. E quero, neste post, falar do que entendo serem erros, mas desta forma: para que sejam revistos, para que haja aprendizado, reflexão, debate. Sempre. Então, aí vou eu.
Hoje, no universo de 40 milhões de apaixonados, cada um se enquadra em pelo menos uma destas condições em relação ao Flamengo: há os participantes do Nação Rubro-Negra, o projeto de Sócio-Torcedor, com diversas modalidades; há o sócio propriamente dito, também dividido em algumas categorias, que para facilitar identificarei como "sócio comum"; e existe o torcedor que não é sócio de nada, sendo apenas um apaixonado pelo Flamengo, que chamarei neste texto de "torcedor comum".
Pois então: o que vejo na atualidade são incongruências e possibilidades graves de excludências no que a instituição Clube de Regatas do Flamengo oferece a esses três grupos que incluem a Nação. E, como todos sabemos, Flamengo e exclusão são duas coisas que não devem nunca se misturar. Nunca.
Vou começar falando do "sócio comum". Não importa qual seja a modalidade, ele hoje tem direito a participação na vida política do Flamengo e na vida social da sede do clube. Veja bem: eu disse "hoje", e hoje é só isso aí.
Há um tempo atrás - pra tornar mais claro, antes do lançamento do Sócio-Torcedor -, o sócio era considerado de fato o grande colaborador e parceiro do Flamengo - e não apenas no nível político e social, mas também no financeiro. Justíssimo: afinal, os sócios são responsáveis por regulares entradas de capital no clube, de formas diferentes e relacionadas às suas respectivas modalidades. Inclusive, quando o assunto sócio-torcedor era ainda nebuloso e indefinido, havia o discurso dos que hoje governam o clube para que os Rubro-Negros se tornassem sócios do mesmo - e, sem dúvida, não era um convite para que frequentassem a Gávea.
Voltando. Até antes do Nação Rubro-Negra, o sócio era colaborador não do clube, mas da instituição Flamengo. Em maior ou em menor grau, dá para dizer que, em se tratando de um clube, é coisa de 1895, certo? E foi assim até bem pouco tempo.
O que aconteceu do Nação Rubro-Negra para cá então? Hoje, o sócio não é mais considerado pelo clube um colaborador da instituição, mas tão somente do clube. E por conta do lançamento do Nação Rubro-Negra, alguns benefícios decorrentes desta união não com o clube, mas com o Clube de Regatas do Flamengo foram eliminados, sendo direcionados tão somente para o Nação Rubro-Negra. O objetivo é claro: fazer com que os que já são sócios do clube sejam também do Nação Rubro-Negra - que, lembremos, é considerado modalidade de sócio-torcedor.
Muitos "sócios comuns", de fato, viraram sócios-torcedores. Sócios de um mesmo clube 2 vezes. Faz sentido? Pra mim, não. Não para mim, que jamais me considerei sócio do "Fla-Gávea", mas sim da instituição chamada Clube de Regatas do Flamengo - e, na boa, até antes do sócio torcedor, garanto que essa era a percepção dos Rubro-Negros que se associaram a ele.
Pior: faz sentido que aqueles que por décadas foram os grandes apoiadores da instituição, não estejam contemplados em pelo menos alguns benefícios do Nação Rubro-Negra, sendo o principal deles descontos e prioridades na compra de ingressos e produtos? Para mim, menos ainda.
Comandantes do Flamengo, entendam: os sócios do clube são os verdadeiros precursores do projeto de sócio-torcedor. Alguns, repito, há décadas - e por isso não deveriam ser eliminados de pelo menos alguns dos benefícios disponíveis no Nação Rubro-Negra - penso, ao menos dos que acima mencionei. E essa necessidade de extensão de benefícios fica ainda mais grave a uma modalidade em especial: a Off-Rio, composta por sócios que sequer participam da vida social do clube mas que hoje não possuem descontos em ingressos quando o Flamengo vai jogar em suas respectivas cidades. Para isso, agora, é preciso ser Sócio-Torcedor.
De novo, está certo isso? Para mim, fica claro que não.
E os sócio-torcedores, integrantes do Nação Rubro-Negra? Sim, são especiais. Sim, fazem parte de um novo, promissor e FUNDAMENTAL (sim, em caixa alta, para ser ainda mais contundente) projeto do Flamengo. No entanto, na verdade, não são sequer sócios quando deveriam o ser, ao menos nos moldes do "sócio comum" Off-Rio -
e disso já falei neste texto aqui.
Hoje, acertadamente, o Nação Rubro-Negra é o grande foco do Flamengo; porém, há que se ter o cuidado de ser um projeto com exclusividades, porém não excludente. E digo isso tanto em respeito aos que anteriormente já apoiavam o clube - os tais "sócios comuns" - como aos "torcedores comuns".
Sobre a primeira relação (sócio-torcedor x "sócio comum") eu já opinei acima. E sobre Sócio-Torcedor x "torcedor comum" é sempre preciso ter em vista um fato muito importante: a instituição Flamengo nunca, jamais, pode ignorar as camadas menos favorecidas de sua torcida.
Sabemos que o Flamengo é uma Nação. Temos torcedores de todas as classes, da A a Z. Por isso, a instituição precisa encontrar o equilíbrio entre privilegiar com justiça seus sócios-torcedores sem eliminar ou reduzir drasticamente o contato dos "torcedores comuns" com o Flamengo no que diz respeito ao direito de frequentar estádios e ginásios para torcer pelo time, sejam as classes às quais esses "torcedores comuns" pertençam.
Em termos práticos: pode prioridade na compra de ingressos? Pode. Mas sempre, sempre, destinando uma carga relevante ao "torcedor comum" - aquele cujo contato com o Flamengo, em reais, se dá tão somente na compra de um lugarzinho na arquibancada ou na cadeira. E ponto.
Todos, sem distinção, gostamos de dizer que o Flamengo vem do povo, e nele reside sua força. Que o Flamengo nunca o exclua de sua história e relação pois, no dia em que fizer isso, estará se perdendo de sua essência.
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Torço e torcerei sempre para que o Flamengo seja cada vez maior; mas não quero esse crescimento a todo custo. Não o quero alimentado com a ganância, que invariavelmente gera percepções distorcidas e medidas injustas; e não o quero às custas da desconsideração com aqueles que tiveram e têm dinheiro para apostar na que foi a forma primeira de auxílio ao clube, que é o "sócio comum", tampouco alijando e afastando de si os "torcedores comuns", sobretudo os de classes mais humildes.
O Flamengo que eu quero e pelo qual torço é justo. É um Flamengo, sem dúvida, que irá acertar como já vem acertando e muito, mas que irá considerar que muitas observações e senões que sua Nação aponta, de fato, possam ser erros, possibilitando, como eu disse lá no começo, correções de rota.
Vejo, e não estou sozinho, que estes erros já existem, assim como sei também que há tempo e há possibilidade para que aconteçam as correções. Quero e vou seguir acreditando. Afinal, se essa diretoria vem sendo pródiga em consertar os erros de outras, que dirá dos seus.